segunda-feira, dezembro 20, 2004

Nova ausência

© António Baeta Oliveira

Nova ausência. Esta, um pouco mais prolongada.

Pode acontecer que ainda nos vejamos este ano. Caso contrário, cá nos encontraremos no novo ano de 2005.

Um abraço e votos das melhores venturas!

P.S.

Enquanto vou e volto, acrescento mais um arquivo de textos, sobre Silves, que aqui fui escrevendo ao longo do ano de 2004.


Aqui, longe, onde me encontro, foi com prazer que recebi esta prenda da Helena, de Linha de Cabotagem.


sexta-feira, dezembro 17, 2004

O Douro, o Porto e Serralves

© António Baeta Oliveira   © António Baeta Oliveira   © António Baeta Oliveira

Foi bom voltar a subir a marginal, junto ao Douro. Foi bom rever o Porto.
O tempo encurtou com a ida a Serralves e pouco fruímos a cidade.

© António Baeta Oliveira




Serralves é cúmplice do silêncio que suscita e Paula Rego e a sua exposição prendeu-nos e enredou-nos nas suas pequenas histórias, nas suas memórias recheadas de sexualidade, na ironia das alusões, nas imagens e mitos que evoca e com os quais nos surpreende.


 


quarta-feira, dezembro 15, 2004

Por terras do Baixo Tâmega

© António Baeta Oliveira
O Tâmega, em Vila Boa do Bispo

Um dos grandes méritos deste passeio com o meu irmão foi o do regresso a estas terras do Baixo Tâmega, onde nasceram meu pai e meus avós.

    © António Baeta Oliveira
    Uma sede feita de saudade

    Foi o retorno aos prazeres simples da infância e da adolescência, nas férias de Verão, que então se prolongavam Setembro adentro, até às vindimas.


      © António Baeta Oliveira© António Baeta Oliveira© António Baeta Oliveira

      Foi o encontro com as memórias da antiga oficina, do trabalho do meu tio e primos no manejo do duro ferro, do qual faziam surgir resistentes utensílios de trabalho e outras aplicações, quando não elegantes volutas e intrincados rendilhados, produzidos com o suor dos corpos e o calor da forja.

      Foi a saudade da velha fonte, dos passeios pelo fim de tarde em estreitos carreiros de sombras e de folhas secas, a anunciar o Outono.

      Foi o aconchego da família e o prazer de uma tradicional refeição, feita de alegria e amizade, em torno da mesa de jantar.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Ao meu irmão Fernando

O Fernando é um dos meus irmãos e vive na Escócia, pertinho do frio Mar do Norte. Tencionava vir por esta altura a Portugal e, como portista que é, escolheu a ocasião do Porto x Chelsea. Convidou-me para um passeio que aceitei com agrado.

Foi bom vê-lo feliz com a vitória da sua equipa.

© António Baeta Oliveira© António Baeta Oliveira© António Baeta Oliveira

Ele regressou e eu fiquei a lamentar não termos ido ao Japão, mas afinal a nossa presença não foi necessária. ;-)

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Actividade marítima ao tempo da civilização do Al-Ândalus

Astrolábio árabe, séc. XIII, Museu de História da Ciência, Oxford, © António Baeta Oliveira
Astrolábio árabe (séc. XIII)

Foi na sequência da fotografia do morabitino do post anterior, que me propus utilizar esta outra, também tirada na mesma ocasião.
Fica a ilustrar esta sugestão de leitura do texto de uma conferência do Prof. Doutor Christophe Picard (Universidade de Saint-Etienne, França), sob o título "Shilb e a actividade marítima dos muçulmanos no Oceano Atlântico".

Contém variadas menções a referências históricas à cidade de Silves, entre as quais o episódio da embaixada de Al-Ghazal junto dos Vikings, em representação da corte Omíada de Córdova e descreve Silves, o seu porto e os seus estaleiros de construção naval, como "um dos elos fundamentais para o desabrochar da navegação muçulmana no Oceano Atlântico".

Aqui fica uma breve citação:

  • Com efeito, Silves foi, na órbita de Sevilha, e tal como Huelva/Saltes, Faro, Alcácer do Sal ou Lisboa, um dos portos onde se enraizou toda uma vida marítima feita de comércio, de pirataria ou de actividades navais "oficiais". Esta animação pode ser evocada em dois sentidos. Por uma lado, um certo número de factos político-militares tiveram Silves por palco, permitindo dar a conhecer, mesmo que de forma incompleta, a evolução marítima da cidade; a maior parte das fontes é conhecida, mas pouco utilizada neste sentido. A outra fonte de informação refere um âmbito mais alargado, recolocando a evolução marítima de Silves no quadro geral da expansão da navegação atlântica.



sexta-feira, dezembro 03, 2004

Curta ausência

Irei ausentar-me por alguns dias.

Deixo-vos com uma fotografia que há algum tempo tirei no Ashmolean Museum, em Oxford, e que reproduz a imagem de um morabitino de D. Sancho I, uma valiosa moeda em ouro maciço (a nº 58 da colecção).

      Morabitino de D. Sancho I, Ashmolean Museum, Oxford, © António Baeta Oliveira

                Morabitino de D. Sancho I
          Se clicar na imagem obterá uma ampliação de um
          morabitino semelhante, com a devida vénia a
              http://moedamania.planetaclix.pt

A cunhagem de moeda era, ao tempo, uma importante forma de divulgação e publicitação da imagem do poder, e a utilização do morabitino de ouro (que reproduzia o modelo e o valor da moeda muçulmana) representava também, de certo modo, a afirmação de uma capacidade económica que se faz equivaler à da economia da civilização do al-Ândalus, ainda dominante, e que se prolongaria por mais algumas décadas depois da 1ª conquista de Silves por D. Sancho I, em Setembro de 1189.


quinta-feira, dezembro 02, 2004

A Padaria da Cooperativa

Padaria da Cooperativa, © António Baeta Oliveira, Agosto 2002

Aconteceu que andei a tirar fotografias à Padaria da Cooperativa (Cooperativa Operária "A Compensadora"), na tarde da passada sexta-feira, com a intenção de alertar para a necessidade de uma intervenção autárquica, no sentido de vir a considerar este edifício como de interesse municipal, quando, de regresso a casa me deparo com uma convocatória da cooperativa onde se refere o interesse da autarquia em adquirir o edifício.

É de facto um edifício notável, pela originalidade da sua planta (hexágono irregular, aparentando um pentágono), a sua inserção no cruzamento das ruas, sem conflitualidade,...
Padaria da Cooperativa, © António Baeta Oliveira, Novembro 2004 ... a harmonia das formas, a sua elegância e equilíbrio, os materiais utilizados, os elementos decorativos do telhado, a sua finalidade e a sua marca na história urbana da cidade.

Seria um enorme atentado se viesse a sofrer alterações no seu traçado e não viessem a ser respeitados alguns dos materiais que constituem o seu carácter único e insubstituível.

Recordo com prazer o encanto manifesto do Mestre Lagoa Henriques, num dia em que visitou Silves a convite da Escola Dr. Garcia Domingues (ao tempo ainda não tinha o nome do seu actual patrono), perante este mesmo edifício.

Eu iria só propor o imóvel como de interesse municipal, mas assim fica melhor defendido, como património municipal.
Parabéns pela decisão.


terça-feira, novembro 30, 2004

Rua Bernardo Marques

Rua Bernardo Marques, © António Baeta Oliveira, Novembro 2004
Rua Bernardo Marques

FINALMENTE, a obra tem um ar terminado.

Digo finalmente reportando-me a um post onde comento o início desta obra, no dia 14 de Julho de 2003.


© www.carvoeiro.com   © Margarida Soares   © António Baeta Oliveira

Estas três fotos documentam os três diferentes aspectos que conheci desta rua: a primeira, antes de meados dos anos 70; a segunda, desde esse tempo até 14 de Julho de 2003; a terceira, actual, desde a semana passada.

Bem! Francamente, gosto.
Creio, no entanto, que são desnecessariamente elevadas as "floreiras" centrais. A propósito das árvores lá plantadas (não me refiro às outras plantas), ainda pequenas, não sei, mas receio que o seu porte possa vir a dificultar a visão do que mais gostava nesta rua, ao tempo da primeira das três fotografias: "o espaço, a amplidão do olhar, o simples pormenor de ver a rua toda, desanuviada...", e as duas torres albarrãs da antiga cerca da medina.

É uma opinião e o meu contributo de cidadão.

P.S.
Entretanto, já visitei o 7.º Itinerário de Arthur Rimbaud
.


segunda-feira, novembro 29, 2004

+ amigos

O Manuel foi o ano passado colocado numa escola em Silves. Conhecemo-nos e ganhámos uma amizade que se consolidou numa estadia em Marrocos, num curso de civilização árabe, no passado Verão. Um dia, ao almoço, numa mesa cheia de amigos em alegre convivência, ao mostrar-lhe algo que havia escrito a propósito das impressões daquela estadia, ele puxou do seu moleskine e revelou-me este poema, que escrevera havia algum tempo e que me surpreendeu, pois desconhecia a sua escrita poética.
Num destes últimos fins-de-semana, por email, surpreendeu-me de novo, ao oferecer-mo. Agora é meu. Posso partilhá-lo:

  • quando o dia terminar

    quando o dia terminar. quero
    que deixes a janela aberta
    ao riso das crianças. que
    teus passos continuem
    a iluminar cada canto da casa.
    quero de novo teu corpo
    junto ao meu. num repousar
    de sombras. num silêncio só nosso

    Manuel A. Domingos


Em Limites de Luz, pode apreciar poesia do Manuel.


sexta-feira, novembro 26, 2004

Os amigos

Torquato da Luz foi meu amigo de infância, em Alcantarilha.
Quando terminámos o ensino primário, rumámos a diferentes locais para continuar a estudar. Fomo-nos encontrando esporadicamente durante algum tempo, mas não nos vemos há bem mais de trinta anos.
Foi mais fácil para mim seguir o seu percurso do que ele o meu, pois jornalista em Faro, Lisboa e Porto, mais tarde director, de jornais e do 2º canal da RTP, ganhou uma visibilidade mediática que me permitiu ir sabendo coisas de si.

É curioso, agora que escrevo, pensar no porquê de uma amizade que deveria ter terminado aos 10 anos de idade, quando nos separámos. Quantos amigos ao longo da vida já terei esquecido? Quantos colegas não mais recordei ou conseguirei recordar? Porquê o Torquato e alguns mais dos meus tempos de infância, outros da adolescência, ficaram amigos para sempre, mesmo que não nos vejamos, nem saibamos por vezes do seu paradeiro?
É uma amizade como se nos conhecêssemos por dentro.
Nem me lembro já de que forma passamos a comunicar com alguma regularidade nestes últimos tempos, por email ou comentários aqui, no blog, mas a memória afectiva guarda a espontaneidade de uma amizade de há dezenas de anos, sem nos vermos, como num encontro de amigos que se tivessem visto no dia anterior.

Hoje é dia de mais um aniversário do Torquato.

Por isso, este seu poema dedicado à terra que o viu nascer:

  • Alcantarilha

    Aqui é que sou eu
    aqui é que estou certo.
    Regaço a que regresso
    natural e liberto
    neste chão que é o meu
    me recomeço.

Um outro seu poema ainda, a Silves, a terra de quatro gerações de familiares que me antecederam (que eu saiba, pelo menos):

  • Silves

    Para além desta porta não há nada
    e esta escada
    pára de súbito no ar.

    E que dizer da janela
    também ela
    que já não dá para o mar?

    Nada diremos
    nada.

    Na memória arruinada
    só persiste o apelo:
    reter nas mãos o momento
    bebê-lo até ao fim
    bebê-lo lento
    no esplêndido ondular do teu cabelo.


quarta-feira, novembro 24, 2004

A cidade corticeira

Clique para ampliar - © Henrique Martins
Silves, anos 30

A História local não tem lugar no currículo escolar, salvo por iniciativa pessoal deste ou daquele professor de História, e o conhecimento do passado de qualquer localidade do nosso país restringe-se a um núcleo reduzido de estudiosos ou de curiosos.
Se o conhecimento da História local ou regional tem importância, então é importante que se reveja esta situação, de forma a que os currículos venham a incluir esse estudo, que mais não seja através de trabalhos de consulta das obras indicadas numa bibliografia de referência.

O que sobre a História de Silves mais facilmente chega ao comum dos cidadãos limita-se à ideia de que no passado "Silves foi conquistada aos árabes", Diogo de Silvese sobre a gesta da Expansão Portuguesa, creio ser possível assegurar que a maioria da população nunca ouviu falar de Diogo de Silves, o descobridor dos Açores, com direito ao seu reconhecimento por parte dos açorianos, homenagem na filatelia nacional, com nome de rua em Odivelas (vá-se lá saber porquê) e, penitencio-me se peco por erro, sem ter sequer uma simples placa toponímica na sua própria cidade.

Há, ainda, um outro período histórico de particular relevância, marcado no tecido urbano pela expansão da cidade para Nascente, patente na rua Cândido dos Reis, e em todas as cercas de fábricas abandonadas ou utilizadas em mais ou menos recentes urbanizações e requalificações: a Silves da indústria corticeira.
Essa Silves permanece ainda em toda a baixa da cidade e nos seus edifícios de maior porte, nos prédios oitocentistas que serviram todo o comércio local e até nos majestosos edifícios dos Paços do Concelho ou do Palacete Grade.
Clique para ampliar - © Henrique Martins   Clique para ampliar - © Henrique Martins
Apesar da recente intervenção de requalificação urbana da baixa citadina e dos novos edifícios e bairros a nascente e poente da cidade, Silves mantém ainda, além da sua silhueta (que parece não sofrer alteração desde os anos 30, de acordo com as fotos), as características arquitectónicas e urbanísticas dessa época, mescladas com as benfeitorias da moda e os remendos do tempo.

Aproveito o blog para estabelecer a ligação a um trabalho de João Madeira (Mestre em História do séc. XX), publicado no nº 12 de O Mirante, Dezembro de 1997 (orgão da Associação de Estudos e Defesa do Património Histórico-Cultural de Silves), sob o título Da alvorada do século ao Estado Novo.
Terá acesso a breve informação estatística, referências à formação da Associação de Classe dos Corticeiros (edifício de dois pisos na Rua da Sé, onde estão instalados alguns serviços camarários) e da Cooperativa Operária "A Compensadora" (ainda em funcionamento), notas sobre a luta pela redução da jornada de trabalho das 12 para as 10 horas diárias, relato da greve de 1924, que registou um morto e vários feridos (fez agora 80 anos a 22 de Junho), e outro relato, mais alongado, sobre os eventos de 18 de Janeiro de 1934, a crise do anarco-sindicalismo e a emergência do PCP, ainda referências ao jornal Voz do Sul, com sede no local onde ainda hoje há uma tipografia, na rua 5 de Outubro.

P.S.

Foi com surpresa que vi o Local & Blogal ser considerado o Blog do dia.
"De e sobre Silves. Muito interessante e original pela constante referência às nossas raízes e tradições árabes", citando Gabriel Silva, em Blasfémias, um blog com uma média superior a mil visitantes por dia.
Obrigado!

Atenção! Já está online o 6º itinerário de Arthur Rimbaud.


segunda-feira, novembro 22, 2004

Julião Quintinha

Jornalista e escritor, Julião Quintinha foi uma figura ilustre da vida silvense e da vida lisboeta da sua época (1886-1968). Assumiu um papel importante na direcção das associações que vieram a instalar-se no prédio da Rua do Loreto, em Lisboa, e deram origem à Casa da Imprensa.

Convém recordar esta figura do passado da minha terra que tende a cair no esquecimento, enterrada na lápide do nome de uma rua, e chamar a atenção para o valor da sua obra, apelar à sua eventual republicação.


É o que faço ao remeter-vos para O Pató, um pequeno conto, com a cidade de Silves como cenário, ao fundo.

Não resisto a atrair a vossa atenção, com um pequeno excerto que retrata esse mundo dos anos 20/30, do anarco-sindicalismo, da organização operária dos corticeiros, de que ouvia falar em surdina, quando miúdo, sem entender, mas que sempre me atraiu pela curiosidade que me desencadeava:

  • " (...) O mês corria tumultuoso, triste, faminto: os operários tinham protestado contra a miséria do salário; estalara, violenta, vermelha, ruidosa, a greve! O patrão mantinha-se irredutível, em guarda dos seus interesses, e o governo - como suprema solução - mandara tropa, soldados, cavalaria que guardava vinhedos e figueirais, que guardava tudo... Era raro o dia em que não havia "cenas" com a tropa, e depois, gente presa, gente ferida, muita gente sobressaltada. (...)"

Remeto-vos ainda para a divulgação de uma outra importante figura de Silves, da mesma época, que ilustrou o livro de Julião Quintinha, na imagem acima - Bernardo Marques (1899-1962), ilustrador e pintor, homenageado em Silves e Lisboa por ocasião do centenário do seu nascimento.

P.S.
Atrevo-me a aconselhar os meus leitores de Silves a guardar estes textos que sugiro, usando a impressora, e divulgá-los junto dos amigos, dos pais ou dos avós. É um serviço que se presta à memória de Julião Quintinha e Bernardo Marques e também à cidade de Silves.


sexta-feira, novembro 19, 2004

Aos amigos

A sua barba ainda era preta, bem preta, quando pela primeira vez o li.
Abro hoje um espaço para a sua poesia, percursora da modernidade que desemboca nos anos 60, nomeadamente pela pena dos poetas de Poesia 61, que ainda há pouco aqui evoquei.

Herberto Helder

        • Aos Amigos

          Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
          Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
          com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
          Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
          dentro do fogo.
          - Temos um talento doloroso e obscuro.
          Construímos um lugar de silêncio.
          De paixão.


      Herberto Helder
      Ou o Poema Contínuo
      Assírio & Alvim, 2004


quinta-feira, novembro 18, 2004

Globalização

Talvez seja esta a ultima transcrição que farei de Na Barca do Coração, de Casimiro de Brito, deste seu diário do ano 2000, a chegar ao fim.
Com data de 18 de Novembro:

  • "Globalização: a miséria dos países mais pobres e das classes mais pobres dos países ricos - já não comove. Já não surpreende ninguém. Banalizou-se. A não ser que haja (ou se fabrique no centro das imagens) um fait divers. Que se monte um espectáculo. É desolador. Uma espécie de prazer da indiferença? Do "não me vêem, não me fazem mal"? É o tempo da iliteracia e das seitas e dos mágicos para todos os gostos. Eles não querem morrer, querem é dormir, esquecer. Querem não ser. Amnésia. Uma árvore onde os pequenos galhos se multiplicam. E saltam de um galho para outro, silenciosos, videirinhos. A multidão está no chão, convulsa, compacta, esmagando-se."


Afinal não resisto a outra transcrição, dado que, como comentou Casimiro:
"(...) O maldito ofício de poeta. Resumir, com palavras mortas, a matéria viva (crua, cruel) do mundo.(...)"

Com data de 16 de Novembro:

  • "Às armas de Israel responderemos com as nossas almas", disse Arafat. Almas/armas, não sei se funciona em árabe, mas em português já li "almas brancas" por "armas brancas". E, não sei onde, "almas armadilhadas".



quarta-feira, novembro 17, 2004

Vendéeglobe



O Eurico, de Um pouco mais de Sul, chamava outro dia a atenção para uma regata à volta do mundo, solitária, sem escala e sem assistência, num autêntico desafio à capacidade de resistência humana e à fúria dos elementos.
A curiosidade fez-me dar uma espreitadela ao site oficial da prova e fiquei entusiasmado com o rigor das coordenadas que localizam cada um dos concorrentes, a sua velocidade e direcção, a distância que os separa uns dos outros, as condições meteorológicas que se lhes oferecem, as cartas geográficas, os vídeos, as fotos e até a possibilidade de os contactar por email, assim, tão por dentro, podendo acompanhá-los na viagem, a partir do conforto das nossas casas.

Na noite passada, por volta das 19h00 (hora de Portugal), depois de nove dias de viagem, Norbert Sedlacek, vienense, viajava no seu Brother em latitudes próximas dos 20º N.

www.vendeeglobe.org   www.vendeeglobe.org
No conforto dos seus aposentos.     Em risco de saltar borda fora.

A referência a Norbert Sedlacek resulta do facto de ocupar, à hora a que escrevo, o último lugar da regata. A menos 4º de latitude, junto às ilhas de Cabo Verde, viajava a última das duas mulheres em competição - Anne Liardet, no Roxy. Em primeiro lugar avança Jean Le Cam, no Bonduelle, preparando-se para mudar de hemisfério, pois encontrava-se perto dos 5º de latitude, perseguido de "perto" por outros concorrentes.

Isto, e o mais que quiser saber, se for o caso, encontrará ao clicar no logo da regata Vendéeglobe, a encimar o post.

P.S.
Se visitou o site de Arthur Rimbaud, na passada quarta-feira, saiba que deverá ter hoje lugar a apresentação do 5º Itinerário.


terça-feira, novembro 16, 2004

XARAJÎB

Está em fase de acabamentos finais a sede do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves - CELAS - projecto que veio reabilitar o antigo Matadouro Municipal.

© António Baeta Oliveira, Uma das janelas do edifício sede do CELAS
Uma janela para o interior do edifício e
um olho para o exterior, reflectindo o mundo envolvente


XARAJÎB - شَرَاجِيبْ - (nome do palácio que Al-Mu'tamid evoca no poema "Saudação a Silves") é o título da revista do CELAS, agora na sua 4ª edição.

Na página de Introdução afirma Ana Maria Mira, Presidente do CELAS:

    "(...) Mas muito em breve, na nossa casa já reabilitada, poderemos alargar ainda mais o âmbito das nossas intervenções e sobretudo intensificar o debate, dissipador de brumas (apesar do impacto desestruturante das novas cruzadas), sobre as diversas problemáticas que nos preocupam, tendo sempre, como pano de fundo, o Al-Andalus a que pertencemos e as culturas mais longínquas que lhe estão subjacentes, na busca do saber, do entendimento e da amizade com esses povos, aos quais nos ligam afinidades ancestrais."


Do Sumário, além da Introdução, constam:

    - O Islamismo Sunita entre os africanos negros de Moçambique: Roteiro Histórico para algumas questões sócio-antropológicas, por Eduardo Medeiros
    - Muçulmanos e portugueses - Espaços de colaboração e conflitualidade no Sudeste Africano, por José Capela
    - A Administração portuguesa e o Islão, em Moçambique e na Guiné, nos anos 1960 a 1970: Comportamentos comparados, por Fernando Amaro Monteiro
    - Pele Negra, Memória Branca: O Padre Setecentista Manuel do Rosário Pinto e a sua História de São Tomé, por Arlindo Manuel Caldeira
    - O Pan-Africanismo nas Ilhas de Cabo Verde, por Manuel Brito-Semedo
    - Poder e comunidades no Sul da Índia, 1500-1663 - O caso dos Muçulmanos de Kerala - algumas perspectivas, por José Alberto Rodrigues da Silva Tavim
    - "Turquerie" na iconografia do século XVI, por Marília dos Santos Lopes
    - As praças marroquinas no século XV, por Valdemar Coutinho
    - Arabismo, instrução pública e relações luso-magrebinas no século XIX: Manuel Nunes Barbosa e António Caetano Pereira, por Rui Pereira
    - Origens e formação da população tunesina - (uçul al-xa'b al-tunisi ua-tamazúju-ha), por Áhmad Al-Hamrúni
    - Emblemática islâmica, simbologia muçulmana e vexilologia árabe (2ª parte), por António José Rodrigues
    - Ibn Darraj al-Qastalli - Le Chantre des Amirides, de la felicité et l'adversité, por Hamdane Hadjadji
    - Al-Mu'tamid - Poeta do Destino, de Adalberto Alves, (apresentação da 2ª edição), por Tiago Bensetil
    - Al-Mu'tamid - Poeta do Destino - A segunda edição que é uma terceira, por Adalberto Alves
    - Exposição "Da Letra ao Gesto" - Pintores Calígrafos de Marraquexe
    - De l'Art de la Calligraphie en Islam à la Création Contemporaine - Artistes Calligraphes de Marrakech, por Sakina Rharib-Skounti
    - Listagem dos livros oferecidos e adquiridos para a Bilioteca do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves


XARAJÎB
Centro de Estudos Luso-Árabes
Apartado 57
8300-999 Silves
Tel.: 96 634 59 76
Fax: 282 442 447
email: silveslusoarabe@hotmail.com

P.S.
Um comentário de Helder Raimundo alertou-me para a existência de um blog - Palácio dos Balcões - tradução para português do árabe "Xarajîb", que dá título ao meu post de hoje.



segunda-feira, novembro 15, 2004

Terminou o Ramadão

© António Baeta Oliveira, Velhos conversando, Xauen

Regresso ao tema da civilização do Al-Ândalus no dia que se segue a uma das maiores festividades do mundo islâmico - عِيدُالفِطْرِ - 'Idu al-Fitr - o 1º dia do mês de Xawwal, o mês que sucede ao Ramadão. É um dia em que todos se saúdam uns aos outros. É um dia de alegria.

É também cheio de alegria e humor o poema de At-Tulaytuli, que deve ter nascido ou vivido parte significativa da sua vida em Lisboa (séc. XI), pois também é conhecido como lisboeta - Al-Uxbuni.

    • A Formiga

      amplo quadril, esbeltez miúda,
      eis um talhe claramente exagerado.
      levando as provisões parece uma viúva,
      alguém que, sobre pinças, ao peso vai dobrado.
      olhem-na detrás: tal qual fresco pez!
      ou, melhor, um espesso borrão
      que negra tinta de um escrivão
      ao cair da pena ali lhe fez.


Adalberto Alves
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, 1999


sexta-feira, novembro 12, 2004

Arafat vai a sepultar

      www.cnn.com

Não sou maniqueísta e não tenho sobre o conflito do Médio Oriente nenhuma posição pró ou anti palestiniana e pró ou anti israelita mas, com sinceridade, também não sou completamente neutral, pois a minha formação e as circunstâncias que me fizeram, tal como sou hoje, inclinam o ponteiro da balança das minhas simpatias para um dos lados do conflito, que me dispenso de nomear porque, creio eu, é demasiado óbvio para quem me conhece ou para quem me lê.

Não defendo a concepção de que os judeus tenham direito de posse sobre qualquer dos territórios que constituem o Estado de Israel, mas reconheço que hoje, o Estado de Israel é um estado de direito, uma sociedade organizada e democrática.
Defendo que a Palestina seja definitivamente reconhecida como Estado soberano e reivindique como seus os territórios ocupados militarmente por Israel. Acordos posteriores sobre esta matéria serão da competência dos dois estados, soberanos e independentes.

Compreendo a luta dos palestinianos e a sua rebelião contra uma potência que usurpou parte do seu território e reconheço à sociedade israelita contemporânea o seu direito a organizar-se militarmente para defender a sua população e os seus haveres.

Sobre a Intifada, recordo as palavras de Casimiro de Brito (que aqui reproduzi em post com data de 22 de Outubro:

    "A maior parte dos mortos e feridos na Intifada são crianças ou adolescentes. Quem os fere, quem os mata? Quem os coloca na frente de combate ou quem atira a matar? Vão mais depressa para Alah, dizem. São abatidos duas vezes. (...)

Preocupa-me profundamente a situação de guerra permanente que há gerações se vive na Palestina, alimentada pelo ódio e pela intolerância religiosa, e em Israel, pelas mesmas circunstâncias.

Não me compete julgar o homem que hoje vai a sepultar, mas o líder Arafat foi, sem dúvida, um dos principais responsáveis pela degradada situação em que hoje se vive naquela região do mundo.

Mais do que a minha opinião (a que não me posso eximir, por consciência de quem escreve, publica e se expõe), quero indicar-vos este trabalho de James Bennet, jornalista de The New York Times, de que tomei conhecimento em Rua da Judiaria e que considero um trabalho sério de jornalismo, com adequado tratamento tecnológico de acesso pela Internet:


P.S.
Embora a data acima continue a ser a do dia 12 de Novembro, este post scriptum só foi editado a 13, em contenção respeitosa pela memória de Yasser Arafat, ontem sepultado.
Quero indicar um outro link para um outro trabalho multimédia de The New York Times, da responsabilidade do jornalista Greg Myre:

                 Yasir Arafat - Death of a Palestinian Leader (Clique no sublinhado)



quinta-feira, novembro 11, 2004

Um tempo em que a vida se vê de olhos vendados

Casimiro de Brito, a 11 de Novembro de 2000, falava de João César Monteiro e de Branca de Neve, de Álvaro de Campos, e deste nosso tempo a que ele chama negro e a que eu chamava cinzento há poucos dias atrás, mas que está seguramente bem mais preto do que Casimiro de Brito poderia imaginar, quatro anos passados:

  • João César Monteiro, menos libertino e mais cansado, apresenta um filme com poucas imagens. Setenta minutos ao negro, "aquela coisa horrivelmente obscura, aqui e acolá - o que deve agradar muito aos católicos - entrecortada por nesgas de céu azul", disse João. A perfeita metáfora deste tempo, um tempo em que a vida se vê de olhos vendados. É por isso que, exausto, ele diz "não" e pendura o casaco em cima da objectiva. O filme Branca de Neve, é paradigma do conto para crianças, que se julga ser colorido mas não é. Que bem negros são os dias da princesa, sempre com a bruxa da madrasta, repudiada pelo vaticínio do espelho mágico, a tentar envenená-la.
    (...)
    São cada vez mais negras as cores do buraco em que vivemos, as deste mundo real, o mesmo que se projecta nas histórias de encantar. Se abro um jornal, e já tenho os dedos manchados pelo negro da tinta e pela malícia dos títulos, percebo logo. E se ligo a televisão, com toda aquela policromia, ainda percebo melhor: é o negro que vejo, o inferno, a boçalidade do que me dizem ser a vida, embora ela, na sua omnipresença, se alimente de todas as cores. E depois o preto não é a morte das cores, mas pode ser esse momento em que as outras cores não nasceram ainda. Preto é o silêncio que rói entre pais e filhos adolescentes, ambos abandonados. E que cor tem um rio podre? Ou o leite das vacas loucas? Ou um menino (branco ou negro ou amarelo) sem infância? Quantos cegos somos, os invisuais e mais quantos. São pretos os lençóis dos amantes desavindos que teimam em dormir juntos. Preta, a política que já não fala de paz ou que invoca a paz e manda bombardear. O medo. O fracasso individual. A pornografia. A velhice. E alguma infância, recordo-me do poema de Álvaro de Campos, "Sonetos são infância, e, nesta hora, / A minha infância é só um ponto negro." Falta de respeito pelo público, disseram a João César. "Quero que o público se foda", respondeu.

    Casimiro de Brito
    Na Barca do Coração
    Campo das Letras, 2001



quarta-feira, novembro 10, 2004

La liberté libre

Uma amiga (Helena Monteiro) chamou-me a atenção para um site, de origem francesa, de homenagem a Arthur Rimbaud neste ano de comemoração do 150º aniversário do seu nascimento.
Trata-se de uma produção multimédia de extremo bom gosto, onde forma e conteúdo se equilibram de maneira notável.

Hoje, deve ficar disponível o 4º itinerário, dos oito que darão forma completa a este magnífico local na Internet.
Visitai-o! Eu irei visitá-lo também.

Entretanto deixo-vos com um seu poema, na língua original e numa tradução de Augusto de Campos (que me foi facultada num dos emails de divulgação de poesia, de Amélia Pais):






Voyelles

A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes:
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,

Golfes d'ombre; E, candeurs des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes;

U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d'animaux, paix des rides
Que l'alchimie imprime aux grands fronts studieux;

O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges:
- O l'Oméga, rayon violet de Ses Yeux!


Vogais

A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais,
Ainda desvendarei seus mistérios latentes:
A, velado voar de moscas reluzentes
Que zumbem ao redor dos acres lodaçais;

E, nívea candidez de tendas areais,
Lanças de gelo, reis brancos, flores trementes;
I, escarro carmim, rubis a rir nos dentes
Da ira ou da ilusão em tristes bacanais;

U, curvas, vibrações verdes dos oceanos,
Paz de verduras, paz dos pastos, paz dos anos
Que as rugas vão urdindo entre brumas e escolhos;

O, supremo Clamor cheio de estranhos versos,
Silêncios assombrados de anjos e universos;
- Ó! Ômega, o sol violeta dos Seus olhos!



segunda-feira, novembro 08, 2004

Império

http://statue-of-liberty.visit-new-york-city.com
Agora, que os ânimos, o ritmo e o volume das análises vão acalmando e sei que Bush ganhou, é mais fácil não cair na tentação de acreditar que o imperialismo americano, apesar de ter podido apresentar uma outra face, pudesse vir a defender outros interesses que não os do cartel que o justifica e o sustenta.



Já depois de ter terminado este escrito algo sentencioso, lembrei-me, recorri à minha biblioteca e transcrevo:

  • "(...)
    - O senhor exagera a sua importância, Sr. Hearst.
    - O senhor não compreende nada, Sr. Roosevelt.
    - Compreendo isto. Você, o dono... não, não, o pai do país, não conseguiu que os democratas o elegessem candidato à presidência, nem sequer num ano em que não havia a menor possibilidade de eles ganharem. Como explica isso?
    Os olhos de Hearst, muito claros e profundamente implantados, fitavam agora Roosevelt a direito; o efeito era ciclópico, intimidante. - Em primeiro lugar, dir-lhe-ei que não tem a menor importância quem é que se senta nessa cadeira. O país é governado pelos trusts, como você gosta de nos recordar. Eles compraram tudo e todos, incluindo você. A mim não me podem comprar. Eu sou rico. Por isso sou livre de fazer o que quero, e você não. Geralmente, alinho com eles apenas para manter o povo dócil, por agora. Faço-o através da imprensa. Mas você apenas desempenha um cargo. Em breve sairá daqui, e será o seu fim. Mas eu continuo sempre descrevendo o mundo em que vivemos, que assim se transforma naquilo que eu digo que ele é. (...)"

    Gore Vidal
    Império
    Editorial Presença, 1989


sexta-feira, novembro 05, 2004

No Porto nasceu Sophia, em 1919

Faria amanhã 85 anos.

        • Aqui

          Aqui, deposta enfim a minha imagem,
          Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
          No interior das coisas canto nua.

          Aqui livre sou eu - eco da lua
          E dos jardins, os gestos recebidos
          E o tumulto dos gestos pressentidos,
          Aqui sou eu em tudo quanto amei.

          Não por aquilo que só atravessei,
          Não p'lo meu rumor que só perdi
          Não p'los incertos actos que vivi,

          Mas por tudo de quanto ressoei
          E em cujo amor de amor me eternizei.

      Sophia de Mello Breyner Andresen
      Dia do Mar, 1947


P.S.
Quero deixar registado o meu lamento pelo desaparecimento do mais belo de entre os blogs que conheço - Janela Indiscreta


quinta-feira, novembro 04, 2004

Este meu país, provinciano e irreformável

É uma visão cinzenta sobre um país provinciano e irreformável, o que perpassa na leitura dos textos que ultimamente venho lendo.

Há poucos minutos uma amiga escrevia-me: "Não visto o cinzento deste tempo... Entristece-me."

Há mais de cem anos atrás, este mesmo olhar transparecia nos escritos dos "Vencidos da Vida".

Também eu sinto o frio a instalar-se e o meu olhar regista esse tom monocromático.

P.S.
Mais um alerta a propósito da situação degradante que se vem vivendo na comunicação social: José António Barreiros abandona o Diário de Notícias e inicia um blog - A Revolta das Palavras.
Queira inteirar-se do que se passa, seguindo o link.
Eu fui alertado através do blog de Pacheco Pereira.


quarta-feira, novembro 03, 2004

A Feira

A feira terminou e nada me importou. Já não me importa mais. É, para mim, uma coisa do passado; já só vive na nostalgia da minha juventude.
Por isso gostaria de recordar convosco o que o ano passado aqui escrevi (com data de 31 de Outubro):



terça-feira, novembro 02, 2004

SONETO

Terminada a evocação dos poetas de Poesia 61, permitam-me ficar, um pouco mais, com um poeta deste meu Algarve, que me fez companhia, com os seus poemas, numa daquelas tardes chuvosas da semana que findou.

Nuno Júdice

        • SONETO

          Durante estes anos, outonos e invernos,
          na melancolia de tardes de piano e alaúde,
          a chuva caiu com os seus vagares eternos,
          fez-se noite como cai um tampo de ataúde.

          E dediquei-me a registar estas mudanças,
          a ver a diferença entre negro e cinzento,
          ouvindo a música de um choro de crianças
          e o eco sombrio de um fundo lamento.

          Talvez o amor me servisse de horizonte
          se não fosse esta névoa sobre o mar.
          Poderia a manhã nascer de qualquer lugar

          como se a luz brotasse de alguma fonte.
          Acordo a alma com um brusco empurrão,
          e mostro-lhe a vida num aceno de mão.

      Nuno Júdice
      Rimas e Contas, 2000



sexta-feira, outubro 29, 2004

Faro 1952

Encerrando o périplo por Poesia 61, num regresso a Faro, 1952, e ao velho Aliança.

Gastão Cruz

        • Faro 1952

          O café, do outro lado a livraria
          essa a meta da tarde
          quando esfria a pele sem que
          frio fique o dia,
          as linguagens regressam às cúpulas
          de folhas
          e os treze nocturnos ainda nos esperam
          sob o inerte
          torreão do fim da infância,
          escutaremos alguns
          no pobre piano íntimo, o sexto
          repetido como alma dos
          dias,
          percorremos a rua
          até onde entra nela a aragem da ria,
          e o café dum lado, do
          outro a livraria,
          à porta o chapéu largo e a barba
          branca
          dum poeta do passado

      Gastão Cruz
      Rua de Portugal, 2002



quinta-feira, outubro 28, 2004

Os silêncios da fala

Em tempo de encontro com os poetas de Poesia 61.

Maria Teresa Horta

        • Os silêncios da fala

          São tantos
          os silêncios da fala

          De sede
          De saliva
          De suor

          Silêncios de silex
          no corpo do silêncio

          Silêncios de vento
          de mar
          e de torpor

          De amor

          Depois, há as jarras
          com rosas de silêncio

          Os gemidos
          nas camas

          As ancas
          O sabor

          O silêncio que posto
          em cima do silêncio
          usurpa do silêncio o seu magro labor.

      Maria Teresa Horta
      Vozes e olhares no feminino, 2001



quarta-feira, outubro 27, 2004

Urbanização

Ainda na rota de Poesia 61.

Fiama Hasse Pais Brandão

        • Urbanização

          Tudo o que vivêramos
          um dia fundiu-se com o que estava
          a ser vivido.
          Não na memória
          mas no puro espaço
          dos cinco sentidos.
          Havíamos estado no mundo, raso,
          um campo vazio de tojo seco.

          Depois, alguém
          urbanizou o vazio,
          e havia casas e habitantes
          sobre o tojo. E eu,
          que estivera sempre presente,
          vi a dupla configuração de um campo,
          ou a sós em silêncio
          ou narrando esse meu ver.

      Fiama Hasse Pais Brandão
      As Fábulas, 2002



Atenção: Coisas graves estão a passar-se no Diário de Notícias.
Leiam o Comunicado do Conselho de Redacção do DN e saibam do aumento exagerado do orçamento do gabinete de Morais Sarmento.


terça-feira, outubro 26, 2004

As casas vieram de noite

Na sequência do post da passada sexta-feira sobre Casimiro de Brito, "entraram-me em casa", de noite, as memórias de alguns dos seus companheiros de labuta poética, nomeadamente os que mais se identificaram com o movimento Poesia 61, nascido em Faro. Resolvi então reviver con(gosto)vosco alguns desses poetas.

Luiza Neto Jorge

        • As casas vieram de noite

          As casas vieram de noite
          De manhã são casas
          À noite estendem os braços para o alto
          fumegam vão partir

          Fecham os olhos
          percorrem grandes distâncias
          como nuvens ou navios

          As casas fluem de noite
          sob a maré dos rios

          São altamente mais dóceis
          que as crianças
          Dentro do estuque se fecham
          pensativas

          Tentam falar bem claro
          no silêncio
          com sua voz de telhas inclinadas

      Luiza Neto Jorge
      Os Sítios Sitiados, 1973



segunda-feira, outubro 25, 2004

Estranhei, mas não é de estranhar

Era já de tarde, na sexta-feira, quando me confrontei com um dos cartazes da iniciativa cultural da Câmara Municipal de Silves para o sábado seguinte:

    Ciclo de Jazz
    Igreja da Misericórdia
    23 de Outubro -21h30
    Laurent Filipe - "Homenagem a Chet Baker"

Sinceramente, não estranhei que não tivesse visto nenhuma informação na imprensa regional, pois ultimamente Silves só é mencionada quando as iniciativas não são da Câmara Municipal (parece que não lhes interessa publicitar as suas actividades para o exterior).
Estranhei, isso sim, que esta iniciativa fosse publicitada na véspera do acontecimento, tanto mais quando se trata de um tipo de oferta musical que não é habitual e que, por tal motivo, necessitaria de uma divulgação com um prazo mais dilatado, a despertar atenções, a atingir públicos específicos, a promover o interesse.

Por aquele mesmo motivo estranhei o jazz e perguntei-me que tipo de público pretenderia a Câmara atingir. Mas, pensando bem, não é de estranhar, pois as programações da Câmara não aparentam nenhum critério definido; antes parecem correr um pouco na dependência da liquidez orçamental, ao sabor da oferta cultural do momento, ou por proposta de alguma empresa que recentemente por aqui tenha passado com as suas promoções de espectáculos.

Jazz na Igreja da Misericórdia? Estranhei. Não porque a Igreja não esteja desactivada para o culto e não seja frequentemente utilizada para diversos tipos de iniciativas, mas sim porque o jazz carece de alguma informalidade que se não coaduna com a arquitectura, a tipologia e o mobiliário daquela sala. Lembrei-me, então, que a Câmara Municipal não tem um único local que se adapte a qualquer tipo de espectáculo que mereça um mínimo de apresentação e conforto - e voltei a não estranhar.

Mas a Câmara patrocina praticamente todos os espectáculos da Fábrica do Inglês. Porque não o jazz na Fábrica do Inglês? Estranhei.
Mas, pensando melhor, como é um espectáculo que não convoca grandes multidões e se adapta a locais bem mais pequenos, talvez fosse ferir as susceptibilidades e os interesses dos proprietários de outros bares e locais de diversão da cidade, alguns dos quais já têm realizado sessões de jazz, mesmo sem o apoio da Câmara de Silves. E não estranhei.

Ainda me vieram à mente algumas instituições sem fins lucrativos, com salas aceitáveis, algumas das quais até ligadas à música, como a da Sociedade Filarmónica Silvense, e onde existe certamente um público conhecedor, que gostaria de apreciar artistas de qualidade superior à média, ou ainda o APARTE/Racal Clube, que o ano passado apresentou concertos de clarinete e guitarra, guitarra clássica, trompete, música coral e vem divulgando grupos ou artistas que compõem a sua própria música ou criam adaptações de outros compositores e que, ainda por cima, oferece condições bem próximas de um bom ambiente para um concerto de jazz. Mas não estranhei.

Não estranhei porque a Câmara - as Câmaras - são mesmo câmaras, isto é, salas, fechadas à iniciativa da sociedade civil, distribuindo subsídios e benesses para que, caladinhos, miseráveis e agradecidos não venham a ofuscar as "grandes" realizações camarárias.
Como se não competisse melhor à administração pública apoiar, propor e promover iniciativas, do que realizá-las.

P.S.

(1) - PARABÉNS a Asul , por ocasião deste aniversário blogal e pela iniciativa do encontro de bloggers algarvios.

(2) - A partir de hoje é possível aceder a um arquivo dos textos aqui publicados sobre Silves. Entretanto, o arquivo reporta-se somente aos textos de 2003. Um link para esse arquivo passou a constar na coluna de links, à direita.
Pode aceder aos textos agora, clicando aqui.


sexta-feira, outubro 22, 2004

A Casimiro de Brito

Foi publicado no passado fim-de-semana na página "acultura", do jornal "A Voz de Loulé", este meu texto, que abaixo transcrevo:

  • Solicita-me o coordenador desta página que comente um excerto de Na Barca do Coração, de Casimiro de Brito, no dia em que o poeta lançou o primeiro número de Prisma de Cristal, neste mesmo jornal, em 16 de Outubro de 1956.

    Tornei-me, inadvertidamente, um divulgador deste diário do poeta ao comentar, no meu blog, pequenos trechos que reflectiam os meus cuidados, as minhas emoções, as minhas dúvidas, o meu sentir, como se partes de mim, ou do poeta, andassem soltas em demanda de um lugar de encontro e identificação onde se encaixar, para, de novo, tornar a dividir-se procurando outro alguém.

    Curiosamente, a 16 de Outubro de 2000, bem como na sua véspera e no dia seguinte, Casimiro de Brito parece reflectir sobre o que chama “os restos da unidade” e refere-se, expressamente, à relação entre o autor e o leitor:

      15.OUT.2000

      “(…) Acordo e vou saltar para dentro das águas do meu mar, em busca dos restos da unidade que todos os dias vou perdendo e reencontrando. (…)”

      16.OUT.2000

      “Quem tem uma coisa, procura outra. Quem julga ter uma pessoa, também. Não devia ser assim. O possível futuro? O momento depois? Não devia ser assim.”

      17.OUT.2000

      “Escrever bem não me interessa, escrever bonito muito menos. A sensação que desejo transmitir é a mesma que me deixa o amor quando o faço – não fica feito. Um acto não se pode conservar, nem uma mulher. Que também não se conservem os textos que escrevo, que me escapam dos dedos, que se escapem do leitor – deixando-o a sós com a sua vida. A eficácia, na escrita, é uma ilusão e o poema apenas um começo. Para o autor e para o leitor, diferentemente para cada leitor.(…)”

    Termino, não sem que antes diga, aos mais cépticos das “coisas” da poesia, que Casimiro também se debruça sobre outras questões “menos poéticas”, mais urgentes.

    Sobre a realidade de um dia-a-dia que insiste em prolongar-se:

      18.OUT.2000

      “A maior parte dos mortos e feridos na Intifada são crianças ou adolescentes. Quem os fere, quem os mata? Quem os coloca na frente do combate ou quem atira a matar? Vão mais depressa para junto de Alah, dizem. São abatidos duas vezes. (…)”


    Silves, 4 de Outubro de 2004
    António Baeta Oliveira
    blogal.blogspot.com


P.S. Há um blog, da responsabilidade do editor de "acultura", Helder Raimundo, onde são colocados alguns dos textos aí publicados. Veja em CONTRASENSO.



quinta-feira, outubro 21, 2004

A árvore que sustém o torso humano

João Miguel Fernandes Jorge, que já integra a lista de poetas deste blog, publicou em Jardim das Amoreiras, Relógio d'Água, Lisboa 2003, vinte cinco poemas, de outros tantos estudos anatómicos de Vieira da Silva.

É um desses poemas - para o desenho de um esterno humano, donde irradiam (ou onde convergem?) as costelas - que vos trago aqui:

  • Nesse dia de setembro desenhei a árvore que
    sustém o torso humano; os ramos
    trazem a vibração de um instrumento
    mantêm um som semelhante ao mover articulado
    das patas de uma aranha.

    Parece-me que nos últimos dias
    aprendi muito em relação ao traço que ilumina
    a transparência do desenho
    no conflito que existe entre a
    superfície da morte e a profundidade da vida.

    A grafite, a tinta-da-china observa os
    seus segredos e experimenta o nenhum sentimento
    ao descrever o plano interior das cartilagens
    a pele do mundo sob o que nos move
    ardentemente.



quarta-feira, outubro 20, 2004

Hoje é o

DIA DA INTERNET


Chegará alguma vez a haver o Dia do Blog?

P.S. O "caso" do SLB-FCP
Aqui está um bom exemplo do serviço que nos prestam os blogs, em Dia de INTERNET.
Trata-se de um estudo de caso efectuado por uma empresa co-financiada pela União Europeia e que visa, entre outras coisas, o desenvolvimento de soluções para os problemas comuns da Europa.
Recolhi este link através do blog Avatares de um desejo. Daqui remeto a minha devida vénia.
Carregue o seguinte ficheiro de vídeo (.wmv), que deverá despoletar o Windows Media Player ou outro programa da sua preferência. Terá que aguardar 2 a 3 minutos de carregamento em banda larga.
Clique agora aqui e aguarde.
O endereço electrónico para que está a ser remetido é (www.sinelimite-europe.com/doc/Benf-Port.wmv)



terça-feira, outubro 19, 2004

Fruir a Cidade (II)

O título já aqui foi usado, em Agosto de 2003, a propósito, entre outras coisas, da impraticabilidade da fruição das margens do rio a montante da "ponte nova", já porque os proprietários dos terrenos junto às margens impedem o seu acesso e ainda porque os canaviais ali crescem selvaticamente impedindo até o simples desfrute do olhar.
Qual não foi o meu espanto e a minha alegria ao avistar na passada terça-feira (12 de Outubro) este troço do rio e as suas duas margens limpas como nunca antes a minha memória guarda registo, desde meados dos anos 60 e da construção da avenida junto ao rio.
Como foi bom ver de novo o lençol de água sob a velha pérgula e a antiga nora, junto à palmeira, na "Horta da Menina"! Que prazer, o de percorrer o olhar rio acima, como não fazia há tanto tempo atrás!
Silves, Outubro 2004, © António Baeta Oliveira
Não soube a quem coube a iniciativa (suponho que à Câmara Municipal), mas agradeço a restituição deste braço de rio à fruição do meu olhar. Quem sabe se um dia me será permitido percorrer a margem esquerda e voltar de novo à Levada, dos saudosos banhos de toda a rapaziada da minha geração.
Não duvido de que Silves seria mais rica, agora que também se propõe toda uma revitalização das margens a jusante, para lá da "ponte velha".


segunda-feira, outubro 18, 2004

Simpatia interblogal

Helena Monteiro, de Alicerces e Linha de Cabotagem, que atenta e participativamente acompanhou a minha série de posts de viagem por terras beirãs, semelhante a uma outra que em tempos ela efectuara, ofereceu-me um dos seus poemas, que agradeço reconhecido:

        • Monsanto Alcandorado

          Veja-se o poiso das águias
          Destacando-se em baixo nas fragas
          Veja-se lá bem ao longe
          A barragem espelhando a água
          Veja-se acima as pedras
          No silêncio da antiguidade
          Veja-se as rosas e as hortenses
          Em arco-íris nas ruas sinuosas
          Veja-se o tempo intemporal
          Na quietude da aldeia poisado
          Veja-se a vida escorrendo
          Ao som do silêncio amedrontado
          E por entre pedras, xisto e granito
          Veja-se esta aldeia alcandorada.

      Monsanto, 18 de Junho de 2000
      Helena Monteiro


domingo, outubro 17, 2004

Pelos 80 anos de Ramos Rosa

      © Instituto Camões

        • Para um amigo tenho sempre um relógio
          esquecido em qualquer fundo de algibeira.
          Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
          São restos de tabaco e de ternura rápida.
          É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
          É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

      António Ramos Rosa
      Viagem através de uma nebulosa, 1960

P.S. Chamo a atenção para um texto de outro poeta algarvio, Gastão Cruz, de homenagem a Ramos Rosa, no Público de hoje.


sexta-feira, outubro 15, 2004

Ramadão


رَمَضَانْ (Ramadân)
Hoje, os muçulmanos entram no 1º dia do mês de Ramadão, do ano 1425 da Hégira.

Nunca estive num país muçulmano em tempo de Ramadão, mas sempre pensei que seria um autêntico mergulho no desconhecido viver numa cidade que descansa e jejua durante o dia e que sai para a rua à noite, para trabalhar, alimentar-se e divertir-se; numa autêntica inversão das nossa rotinas.
Como os meses muçulmanos vão recuando no tempo, porque o seu ciclo é lunar (mais curto que o solar), talvez um dia o Ramadão coincida com uma época em que me possa disponibilizar para uma viagem.
Já que em 2005 o Ramadão se aproximará do início de Outubro, em 2006 já estará em Setembro. Talvez então viaje, em 2006 ou 2007. Quem sabe se mesmo em 2005!?
Por aí, não há curiosidade?


quinta-feira, outubro 14, 2004

Al-Mu'tamid, 909 anos depois

Al-Mu'tamid - المعتمد - , o rei poeta de Beja, Silves, Sevilha e Aghmat faleceu a 14 de Outubro de 1095, faz hoje 909 anos.

Mausoléu de Al-Mu'tamid, em Aghmat
Mausoléu de Al-Mu'tamid,
em Aghmat


      • VINHO
        a noite lavava as sombras
        das suas pálpebras com a aurora.
        ligeira corria a brisa.

        bebemos vinho velho, cor de rubi,
        denso aroma, suave corpo.


Adalberto Alves
Al-Mu'tamid poeta do destino
Assírio & Alvim, Lisboa 2004


Nota: Clique na pequena ilustração do Mausoléu de Al-Mu'tamid e poderá aceder ao I Itinerário proposto por "El Legado Andalusí", visitando virtualmente, em Aghmat, a sua sepultura.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Serra da Estrela

Manteigas, Outubro 2004, © António Baeta OliveiraDe Manteigas registo o cabrito ou o borrego (só por encomenda) que não pude comer, apesar da sugestão do meu amigo Manuel, daqui natural. Prendeu-me, no entanto, a agradável toalha de linho sobre a mesa e a bem cuidada paisagem que se avistava da janela e que não voltei a reconhecer no caminho que me levou à Torre.
Sei que não é esta a melhor ocasião, mas achei a serra mal tratada, abandonada mesmo e confrontei-me com uma oferta turística quase inexistente, um comércio de produtos ditos regionais de aspecto manhoso e pouco agradável.
Salva-se a majestade natural da serra a perder de vista, a encher o olhar e a transbordar para a "alma".

Termino assim esta série de transcrições do meu Moleskine, onde registei as memórias desta viagem à Covilhã e arredores.
Ah! Covilhã: mais estudantes, mais gente, mais carros caros, mais obras, mais "patos-bravos".

Nota: Clicando sobre a imagem terá acesso a uma foto da paisagem que se avista dessa mesma janela.


terça-feira, outubro 12, 2004

Monfortinho

© http://www.monfortur.pt/prod01.htm

A flora exuberante, a quietude sonâmbula, a limpeza asséptica, próprias das localidades termais. Os hotéis e seus reconhecíveis utentes. Os residentes, que exercem o seu comércio ou prestam os seus serviços, mas que, eventualmente, nunca usufruíram de uma repousada estadia nas suas termas ou de um tratamento termal como o que se documenta.

www.monfortur.pt


segunda-feira, outubro 11, 2004

Monsanto

Monsanto, Outubro 2004, © António Baeta Oliveira
Monsanto

Como um ninho de águias sobre o grande vale, rasgando os inóspitos penhascos onde o granito impera, aí se impôs o homem de Monsanto, construindo um lar.

P.S.
O meu olhar sobre Monsanto, aqui.


sexta-feira, outubro 08, 2004

Penamacor

Penamacor, torre sineira e pelourinho, Outubro 2004, © António Baeta Oliveira
Penamacor - torre sineira e pelourinho

Alcandorada, observando a serra como que a exigir respeito pelo seu medievalismo, na afirmação da sua torre sineira, de prevenção e rebate, na imponência do pelourinho, a ameaçar os incautos.

P.S.
De Penamacor, Manteigas e da Torre (Serra da Estrela) há mais imagens aqui.